terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Medo de Arrepiar


Matéria publicada no jornal Correio da Paraíba, no caderno Papo Cabeça, em 16 de janeiro de 2005.

Na fila do cinema já começa aquele friozinho na barriga. Alguns pais nem desconfiam que filme o filho dele foi ver com os amigos, mas isso já ficou para trás e agora é hora de curtir. A galera está lá e vai encarar mais um lançamento de arrepiar os cabelos. Mas o que pode haver de divertido em um filme que só assusta? Será que tudo não passa de um desejo de se auto-afirmar? É isso, sim e muito mais.

Os filmes de terror geram uma interação com a platéia mais intensa do que qualquer outro gênero. Na verdade ela também é parte do espetáculo. O público dá pulos na poltrona, levanta a perna, se encolhe, grita, cobre os olhos. Uns engraçadinhos aproveitam a tensão para soltar umas piadas nas cenas que antecedem os clímax. Para os casais é um prato cheio: tem até uns garotos que fingem ter mais medo para se acolher com a paquera. E também tem as meninas que estão com o coração saindo pela boca, mas fazem tudo para não transparecerem nada.

Existe outra razão que atrai os adolescentes aos filmes de terror: fazer algo proibido. Alguns ignoram a advertência dos pais, outros tentam driblar a censura pré-estabelecida, o que pode ser bem arriscado e também gerar alguns constrangimentos. Ser convidado a sair do cinema, por exemplo.

Não falta criatividade para tentar dar um jeitinho quando a censura não permite. Alguns tentam usar uma carteira de estudante do amigo mais velho, outros compram o ingresso para um filme de censura livre e entram na sala onde está em cartaz um filme restrito. Há ainda os que apostam na desatenção dos funcionários do cinema em dias mais cheios como a quarta-feira, quando a demanda cresce por causa dos preços promocionais e a fiscalização diminui com a pressa.

O medo está entre as emoções mais primitivas do homem e ele se desenvolve em nós como o raciocínio, ou seja, nós aprendemos as coisas que nos dão medo e associamos o que nos assusta a uma reação de defesa e elas passam a fazer parte do nosso dia-a-dia.

Talvez por esse aspecto ancestral do medo que a história do cinema também tenha se desenvolvido entre produções que causam espanto. Desde filmes clássicos como ¿Nosferatu¿, um vampiro da época do cinema mudo, até os mais recentes como ¿O filho de Chuck¿, ¿O Grito¿, ou ¿Exorcista: O início¿ exploram o medo e garantem salas cheias. Segundo o site Filme B, que mede a freqüência nas salas de cinema do Brasil, em sua estréia, o filme ¿O Grito¿ se tornou o mais assistido do último fim de semana. Em João Pessoa, em sua semana de estréia, a produção ocupou as maiores salas da cidade, a MAG 5 e a Cinebox 5. E se depender do público teen, o sucesso vai continuar.

Depoimentos:

Pedro Bravin, 16: Gosto de filmes de terror porque, basicamente, é adrenalina. E tem hora que você vai com um grupo e faz bagunça e você chega até a rir das cenas.

Eduardo Leão, 15: O medo é legal. Os filmes de antes tinham histórias parecidas com os de hoje, mas os efeitos melhoraram e dá bem mais medo.

Guilherme Vilhaça, 15: Acho que todo mundo gosta de sentir medo.

Tiago Lima, 15: Geralmente a gente vem acompanhado com mulher, e elas sentem medo e agarram na gente. E também é bom para nos testar. Teve uma vez que eu estava sentado ao lado de uma menina que não conhecia e ela, com medo, encostou a mão em mim, daí eu conversei e desenrolei.

Edílson Júnior, 25, que levou suas primas de 14 ao cinema: Elas pensam que já são adultas. Liberou pra 14 e elas já pensam ¿eu posso¿. Elas não querem ver Xuxa!

Mariane Cristine, 15: Em Recife nós já furamos a censura, aqui em João Pessoa é mais rigoroso. Minha carteira de estudante estava com a data de nascimento errada e eles me pediram para mostrar a de identidade.

Rafael de Oliveira, 13: Lá em Recife a gente compra um ingresso da sessão anterior, daí espera dar a hora e vai ao banheiro, quando saímos de lá já entramos na sala do filme de terror. Ninguém vai procurar a gente no escuro mesmo!

Isabelle de Oliveira, 14: Eu comprei no dia de quarta-feira que é lotado, aí o homem não olha a data direito, só vê a foto.

Jonathan de Oliveira, 14: Assisti ¿O exorcista¿ em cartaz pra 14 e eu entrei com 13 no esquema. Meus amigos também vão na onda. Tem vez que barram ou pegam. Uma vez só eu tinha idade pra assistir o filme e colocaram meus colegas todos pra fora e eu fiquei sozinho lá assistindo.

sábado, 15 de janeiro de 2005

Marketing? Magina...


Eu sei que o pessoal vem aqui para ler um texto engraçadinho, ou entra por acidente, ou para me "patrulhar", ou mesmo por algum motivo escuso e/ou desconhecido. Mas dessa vez vou pedir licensa para fazer uma propagandinha discreta, sem fins lucrativos: amanhã tem uma matéria minha no Correio da Paraíba no caderno dominical Papo-Cabeça.

O tema é o gosto que os adolescentes têm por filmes de terror e deve sair com o título "Diversão de Arrepiar". Quem quiser pode lê-la pela versão online do jornal clicando aqui. O texto deve ficar disponível durante uma semana.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Eu iria dar nota 2


Avassaladoras (Brasil, 2002), filme de Mara Mourão, é ruim. Breno você é um péssimo crítico, já tá colocando juízo de valor! E eu com isso? Isso é um blog! O filme é fraco porque os diálogos são fracos, forçados, as interpretações caricatas e Reynaldo Gianecchini (Tiago) está indeglutível.

Mas nem tudo está fora do lugar. A edição é boa. Existe uma certa dinâmica que faz com que você não se canse com o filme. Algumas piadas funcionam e até que dá pra rir um pouco - como na sequência em que Giovanna Antonelli (Laura) e Caco Ciocler (Miguel) vão jantar em um restaurante árabe. Aos que detestam clichês, melhor nem assistir - esse só perde pra Dom (Brasil, 2003).

Uma curiosidade é que o diretor de arte acreditou na combinação do azul com o laranja. Não eram as eleições de João Pessoa, mas era só o que se via. Tem hora que todas na empresa estão usando laranja e uma pessoa está de azul depois o contrário. Numa cena Giovanna Antonelli e Reynaldo Gianecchini estão conversando e no fundo da tela aparecem dois barquinhos amarrados num trapiche, um tem uma faixa azul e a faixa do outro é... acertou.

O final é razoável, pelo menos foge, em parte da previsibilidade. Eu gosto muito de cinema nacional, tendo a olhar as produções brasileiras com bons olhos, mas o começo de Avassaladoras afasta um pouco, depois até que desce, merece um 6. Nota 2 eu vou deixar pra Globo, que mandou às favas o Padrão Globo de Qualidade e fez uns cortes pra dividir o filme em blocos dignos de alunos da 4ª série.