segunda-feira, 27 de março de 2006

O milagre de Daigo


Já fazia um tempo que eu queria escrever sobre Daigo Umehara, mas daí veio Andrei e postou antes de mim. Fogo é que abre um precedente para dizerem que eu estou o imitando. Mas vai assim mesmo.

Pra quem nunca ouviu falar em Daigo Umehara e sabe inglês, recomendo clicar aqui e ler o que a Wikipedia diz sobre ele. Pois é! Daigo é verbete da Wikipedia!

Eu não sei se esse garoto japonês tem outras atividades, mas Daigo ganha dinheiro vencendo oponentes em campeonatos de videogame, em jogos de luta como Street Fighter. Ele ficou mundialmente famoso depois que um video (veja links no fim do post) foi difundido na internet com uma incrível virada de Ken (comandado por Daigo) sobre Chun Li (comandada por Justin Wong), durante a semifinal do Evolution 2004.

Seu Ken estava perto de morrer enquanto a Chun Li do oponente tinha "life" de sobra. Era a terceira luta da melhor de três. Daigo então começa a dar uma seqüência de golpes que vai detonando Justin Wong, mas como ele já estava "fraco", dois golpes poderiam matá-lo. Justin consegue dar um deles e depois apela para o "special", comando que pode ser usado em alguns momentos e faz o lutador dar uma seqüência violenta de golpes.

Se o Ken de Daigo defendesse o "special", morreria por "chipping" (dano de defesa). Então em vez de defender os 15 golpes, ele ataca com sincronia perfeita cada um deles, inclusive o último que era um aéreo. E pra completar a obra prima, Daigo devolve o "special" e liquida Justin levando a platéia e o narrador do combate ao delírio.

Custei a acreditar. Pensava que era montagem, que era impossível sem desconfigurar o jogo. Depois de ver várias vezes fiquei convencido. Se você já jogou Street Fighter alguma vez, o video é imperdível. Confira os links abaixo:

Obs: Uma dica para ver os vídeos é deixá-los passar por completo sem som e depois colocar do início.
Virada de Daigo
Os três rounds da luta entre Daigo e Justin
Uma explicação para a técnica de daigo está aqui.


terça-feira, 14 de março de 2006

Aproveite as flores e sepulte


Esse post é uma tentativa de "boa ação do dia", que termina valendo até quinta, já que espero que esse filme saia de cartaz nesta sexta-feira (17)*. Flores Partidas (EUA, 2005) é provavelmente o pior filme que vi nos últimos 12 meses. Pensei em escrever um crítica séria - que o destruísse -, mas resolvi fazer um "apelo solidário" para salvar os espectadores destes lastimantes 106 minutos.

A sinopse é ótima. Um solteirão, conhecido como um "Don Juan" em sua juventude, recebe uma carta supostamente escrita por uma de suas ex-namoradas. Ela afirma que estava grávida há 19 anos atrás quando ele a deixou e resolveu ter o filho sozinha. A mulher não assina a carta, mas avisa que seu filho saiu numa misteriosa viagem, provavelmente em busca de seu pai. O homem prepara uma lista de ex-namoradas e com a ajuda de um amigo parte em busca da provável autora.

Bill Murray interpreta Don Johnston, personagem central dessa história vendida como comédia, mas que se enquadra melhor no gênero drama. Conhecido por interpretar personagens que exploram o humor do mau-humor, Murray aparece em diversas tomadas, longas diga-se, fazendo coisas monótonas como assistir a um filme ou desenho animado antigo sem esboçar qualquer expressão facial. A idéia é convencer o espectador que Don Johnston tem uma vida vazia.

Winston (Jeffrey Wright), seu vizinho, um negro com sotaque jamaicano, é metido a detetive e logo que vê a carta que Don recebeu tenta descobrir de onde ela foi enviada. Sem êxito, pede ao amigo que faça uma lista de namoradas que teve na época e graças ao MSN Search (vocês pensavam que só filme nacional tinha merchandising?!) localiza endereços, passagens, locais para alugar um carro, e traça o roteiro de viagem. Jonhston diz que não viajará e viaja.

Daí até o filme acabar temos uma seqüência de encontros infrutíferos que mostram como a vida foi ruim para todos. Don Johnston permanece tão sedutor quanto há 20 anos usando a infalível técnica de ser educado e falar pouco. No caminho, ele encontra jovens viajantes - um deles pode ser seu filho! - e volta para casa tão feliz quanto partiu.

O final é "surpreedente", claro que não vou contar. Recomendo aos que gostam de filmes alternativos, com uma estética diferente ou uma narrativa que foge ao comum, que loquem Trainspotting. Brincadeira. Não era isso que eu iria dizer. Mas quem insistir em ver essa obra (trocadilho!) de Jim Jarmush, espere chegar às locadoras e chame dez pessoas para rachar o preço. Acho que por 50 centavos a frustração é menor. Se você acha difícil convencer alguém a assistir isso, apele para os adolescentes. Diga que tem uma mulher que aparece totalmente nua (refiro-me à nudez gratuita da conhecidíssima Alexis Dziena. Quem?) durante a sessão.

* A esperança é a última que morre, mas morre. Ficou mais uma semana.

sábado, 4 de março de 2006

Mais que Chico Buarque


Eu estava lá. Restaurante Yokan, Cabo Branco, por volta das 23h30 da última quinta-feira (2). Tinha ido ao cinema e minha amiga havia sugerido comida japonesa. Quando estava me servindo encontrei Bráulio Tavares na fila.

Comentei baixinho "já viu quem está aí? (...) Bráulio Tavares".

Juro que não foi por tietagem, mas sentamos numa mesa perto da dele, na área externa. Dentro do restaurante estava muito barulhento. Daí, enquanto comíamos e conversávamos chega esta mulher, uma balzaquiana. "Olhe sou sua fã. Tenho todos os seus livros*, leio todos os seus artigos. Você é mais que Chico Buarque, porque é paraibano".

Claro que a essa altura eu e minha amiga já trocávamos risos discretos, a posição que estávamos sentados ajudava a disfarçar. A mulher foi embora e eu fiquei pensando no post.

Bráulio Tavares é um gênio. Não bastasse sua erudição intelectual que o torna internacionalmente conhecido no campo da ficção científica, desenvolveu seu lado artístico como poucos na Paraíba. É um cordelista de primeira qualidade e suas parcerias musicais constituem as melhores faixas de alguns discos que ouvi ou assisti (DVD é disco, não é?).

Até aí tudo bem. O que soou estranho foi dizer que ele é maior que Chico Buarque porque é paraibano. Ela ainda disse que se Bráulio estivesse no Rio seria muito mais famoso que o músico carioca. Mas até onde sei, Bráulio mantém residência naquele estado.

Não concordo que nosso representante paraibano supere Chico Buarque, digo já quebrando o conceito político-acadêmico correto de que arte não se compara. Bráulio Tavares e Chico Buarque já cravaram os nomes no leque de artistas competentes da História cultural do Brasil. O fato dele ser paraibano nos enche de orgulho, mas não é motivo para dar um "up" na sua gradação.

Acho que esse foi mais um exemplo de que na Paraíba nos sentimos menores e temos necessidade de nos auto-afirmarmos repetindo constantemente - você já deve ter ouvido - que em determinado contexto "a Paraíba não fica devendo" a esse ou aquele lugar.

* Duvidei disso. Será que ela tem "O que é ficção científica"?