Richard Stallman diz que usuário não tem liberdade; "papa" do software livre faz palestra hoje em JP
Breno Barros
*Matéria publicada na edição de domingo (21/06) do Correio da Paraíba
Quem controla o seu computador pessoal? Para Richard Stallman, criador do movimento pelo software livre, todos os usuários de software proprietário são controlados pelos fabricantes destes programas. Principal convidado do 3º Encontro de Software Livre da Paraiba (Ensol), Stallman está na Paraíba fazendo o que virou sua bandeira de luta: disseminar a liberdade do usuário de tecnologia. Seu conceito de liberdade e dos seguidores de seu movimento é que apenas através de software em que o usuário tenha acesso ao código-fonte para usá-lo, copiá-lo, estudá-lo, modificá-lo e redistribuí-lo sem nenhuma restrição os usuários de tecnologia podem ser livres.
Embora algumas estatísticas apontem que em apenas 2% dos computadores desktop o sistema operacional seja um software livre como GNU/Linux ou FreeBSD, o tema tem chacoalhado o mercado de tecnologia de todo o mundo e levado milhões de jovens programadores a se engajar voluntariamente na causa. Na Paraíba, o 3º Ensol teve quase mil inscritos, entre profissionais e estudantes de Ciências da Computação e curiosos ou simples usuários. Desde quinta-feira, eles debatem saídas para a difusão, uso e negócios com software livre.
Hoje, às 10h00, na Estação Ciência Cabo Branco, o agente embrionário do "free software" em nível mundial, Richard Stallman, ministrou uma palestra sobre "Software Livre na Ética e na Prática". Em entrevista exclusiva ao Jornal Correio, o programador nova-iorquino explicou a essência de sua militância.
Correio da Paraíba: Gostaria que o senhor se apresentasse aos leitores.
Richard Stallman: Eu sou Richard Stallman e fundei o movimento pelo software livre em 1983. É um movimento pela liberdade das pessoas que usam software.
CP: Qual o primeiro passo que o senhor deu para criar este movimento?
RS: A primeira coisa que fiz foi anunciar um plano. Eu disse: vou desenvolver um sistema operacional completamente livre. E procurei por pessoas que talvez pudessem ajudar. E por que desenvolver o sistema operacional assim? Porque o computador não pode fazer nada sem um sistema operacional e naquela época todos os sistemas era subjugados às empresas fabricantes.
CP: Você quer dizer Unix?
RS: Unix era um dos exemplos, mas todos os outros também eram software proprietário. Então significava que era impossível usar o seu computador sem submeter sua liberdade ao sistema operacional e isso valia também para os aplicativos. As pessoas usam aplicativos diferentes, mas todas têm que optar por um sistema operacional. Quando eu disse que desenvolveria um sistema operacional totalmente livre, eu pensei em tornar possível o uso do computador com essa liberdade.
CP: Então você criou o GNU.
RS: Eu decidi fazer um sistema operacional como o Unix porque parecia uma boa ideia em termos técnicos e práticos. Mas isso são só detalhes técnicos que não importam. O que realmente importa é que o sistema que eu criaria não seria como o Unix porque seria livre e o Unix não é. Então o sistema foi chamado GNU, que significa “GNU Não é Unix”, isso é humor de programador.
CP: Como você difunde suas idéias quanto ao uso de software livre?
RS: Eu dou palestras, entrevistas como essa, publico artigos e converso com as pessoas. Todas as várias maneiras que me parecerem útil para fazê-lo. As pessoas têm conferências sobre software livre como o Ensol, e isso só contribui para difundir nossas ideias.
CP: Você ainda tem tempo para desenvolver software?
RS: Agora não tenho mais. Estou ficando velho. Minha memória não está tão boa quanto já foi. Para trabalhar num programa grande o que você realmente precisa é lembrar do que já fez. Você precisa lembrar de muitos e muitos detalhes de como cada parte do programa funciona e como elas se relacionam com outras partes. Eu não lembro disso como lembrava há 20 anos.
CP: Você é casado? Tem filhos?
RS: Nunca casei e não quero ter filhos. Ter filhos é um peso tremendo. As pessoas que têm filhos passam o resto das vidas tentando desesperadamente ter dinheiro, então, em sua essência, eles se tornam escravos do dinheiro. Eu não quero que o dinheiro controle minha vida. Eu quero ser capaz de fazer alguma coisa que é realmente boa e importante, em vez de alguma outra que alguém me pagará para fazê-la.
CP: O que você estudou na faculdade?
RS: Física. Não tinha nada a ver com o que eu faço hoje.
CP: Você nasceu em Boston, onde reside atualmente?
RS: Nasci em Nova York e passei toda a infância lá. Fiquei fascinado por computadores assim que ouvi falar deles, mas naquela época computadores eram poucos e caríssimos. Nunca vi um quando era criança. A primeira vez que vi um foi no último ano do meu Ensino Médio. Eu comecei a visitar um laboratório da IBM onde eles tinham um computador.
CP: E hoje eles odeiam você?
RS: Eles não me odeiam. A IBM não é nem a nossa melhor amiga nem nossa maior inimiga. A IBM contribui para os software livre algumas vezes, mas também fabricam software proprietário.
CP: Você usa algum software proprietário?
RS: Não. Eu já escapei. Eu vivo a liberdade e no meu computador é completamente composto por software livre.
CP: Como é o trabalho da Free Software Foundation (Fundação para o Software Livre)
RS: A FSF está focada atualmente em chamar a atenção pública para coisas que põem em risco a nossa liberdade, como, por exemplo, as funções maliciosas incluídas nos software proprietário para restringir os usuários. Organizamos protestos contra isso. Também temos uma campanha contra patentes nos programas.
CP: O que o senhor gostaria de dizer aos usuários de tecnologia que irão ler esta entrevista?
RS: Nós sabemos que os computadores fazem o que as pessoas dizem que eles façam. Mas quem diz a seu computador o que fazer? Você pode pensar que é você. Mas isso não é verdade de fato se você usar um software proprietário porque a empresa que o desenvolveu é quem realmente decide o que isso irá fazer e o que não fará. Então é o fabricante que está no controle do seu PC. Isso não está certo e nunca deveria acontecer. Você deveria estar no controle de suas ações ao computador e a maneira de fazer isso acontecer é usar seu computador com software livre somente. O alvo de nosso movimento é colocar um fim nesta prática danosa e injusta dos software proprietário.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
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4 comentários:
Breno,
A matéria ficou muito boa, parabéns. Só tem uma falha: "papa" não é uma boa palavra para descrevê-lo. Ele não é o "papa" do Software Livre, ele é o criador.
Se houver um "papa", este seria o Jon "maddog" Hall.
Abraços,
lol Vítor!
Comparando como voce o fez, "papa" fica pouco para a dimensão do que é o Stallman para a FSF!
Eu havia feito a recomendação que não usasse o termo "papa" quando se falasse em Stallman. O que poucos sabem é que não é o repórter que coloca títulos, subtítulos e legendas nas matérias que são publicadas. Isso é papel do editor. Os editores que trabalharam para descer a matéria voltaram a usar "papa". Fiz minha parte... Obrigado pelos elogios!
Finalmente pude ler sua matéria!
Parabéns pela abordagem, normalmente esse tipo de reportagem que vejo parece ctrl+c/ctrl+v de outras anteriores, se bem que, RMS vive dizendo as mesmas coisas desde que me entendo por gente. Muito radical pro meu gosto.
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