Por Cristiane Rodrigues
A Revista Veja, desta semana, traz um texto intitulado “Qualidade sem diploma”, na seção denominada “Carta ao leitor”, que trata acerca da recente decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a não exigência do diploma de jornalismo. Fiquei indignada com o que li.
Do meu ponto de vista, o grande equívoco que surgiu, durante o julgamento, foi em decorrência da distinção entre atividade jornalística e a liberdade de expressão prevista pela Constituição Federal de 1988.
O Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria, que é inconstitucional a exigência do diploma de jornalismo e registro profissional no Ministério do Trabalho como condição para o exercício da profissão de jornalista. O STF declarou a não recepção pela CF/88 do artigo 4º, inciso V, do Decreto Lei n. 972/1969.
O jornalismo é uma atividade técnica, que exige algumas especificações. O jornalista, quando vai realizar uma reportagem, por exemplo, deve relatar apenas o fato como este realmente ocorreu, ouvindo as partes e colhendo as informações pertinentes para o caso, evitando o sensacionalismo barato. Em hipótese nenhuma, deverá emitir sua opinião, pois se assim o fizer, não estará fazendo uma reportagem e sim um artigo ou tecendo um comentário. Portanto, está claro, que o jornalista não tem “a liberdade de expressão” para escrever o que bem entender.
Por outro lado, a exigência do diploma de jornalista não impede que todos aqueles que queiram colaborar com seus conhecimentos, sejam eles no campo da economia, ciência, do direito, das artes, da moda, do esporte, enfim de qualquer área, possam contribuir. Essas pessoas, no meio jornalístico, são chamadas de colaboradores, comentaristas, articulistas e cronistas.
Na minha opinião, jornalismo e liberdade de expressão, ao contrário do que pensam os ministros do STF, a exceção do ministro Marco Aurélio, devem ser pensados e tratados de forma separada. Data vênia senhores ministros, mas manifestar conhecimento ou pensamento não é fazer jornalismo. Este vai muito mais além.
Outro ponto que merece ser lembrado é no que diz respeito as faculdades de jornalismo. Estas, ao contrário do que trouxe o texto da Revista “Veja”, vão se esvaziar, pois se para exercer a profissão de jornalismo não será mais exigido o diploma, quer dizer, em outras palavras, que não será mais preciso enfrentar um vestibular, se dedicar de quatro a cinco anos em uma faculdade para ser jornalista. Conclui-se que as faculdades estão com os dias contados. Só cego não vê.
Uma decisão como essa do STF, em pleno século XXI, em que todos buscam a qualificação, a especialização é realmente lamentável. Um verdadeiro desestímulo ao conhecimento técnico-científico.
* Texto publicado na página de Opinião da edição de hoje (26/06/09).
PS: Concordo com quase tudo, exceto a parte que o jornalista não pode exprimir opinião. Há meios de fazer isso em uma reportagem, sem, necessariamente, que o texto se torne um artigo opinativo.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
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3 comentários:
Breno, acho um absurdo o fato de qualquer pessoa poder exercer a profissão de jornalista e gozar dos mesmo direitos e privilégios que uma pessoa que se graduou para tal profissão. Não sei a situação do conselho de jornalismo, na verdade num sei nem se existe, mas se existir, com certeza, isso mostra o quanto o mesmo é fraco.
Falo tudo isso com propriedade pois meu conselho, o CREFITO, é de uma mediocridade impressionante. Todos os anos eles nos enviam boletos bancários nos cobrando anuidade para ficarmos legalizados perante a lei. Infelizmente é só pra isso que esses "conselhecos" servem, para nos cobrar divisas.
Não lutam pela classe, não fazem o mínimo necessário para o profissional ter um pouco de reconhecimento o que faz com que a cada dia mais fisioterapeutas se "prostituam".
Da mesma forma deve estar acontecendo com a classe jornalística do país.
Neto, sequer temos um Conselho. Quando falou-se nisso a Globo e outras coorporações já ligaram a sirene da censura, como se um Conselho fosse tentar controlar o nosso modo de praticar jornalismo tal como um regime ditatorial. Sem Conselho estamos mais fracos, sujeitos a aceitar o que nos impõem com a maior naturalidade.
Agora o que se tem a fazer é correr atrás de uma lei!
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